O novo Padre Geral da Companhia de Jesus, o venezuelano Arturo Sosa, narra em uma entrevista pessoal sua história de vida, as muitas e diferentes tarefas que realizou como jesuíta, e sua visão sobre o momento atual da ordem. O encontro aconteceu dois dias depois de sua eleição em Roma, e a entrevista foi feita pela equipe de comunicação da Congregação Geral 36 (CG 36) dos jesuítas, que se celebra nesta cidade desde 02 de outubro passado.
A proximidade do Padre Geral ao Papa Francisco se expressa claramente nestas palavras: “Creio que a mensagem do Papa Francisco, nestes últimos anos, tem sido uma maneira de entusiasmar a Companhia de Jesus naquilo que estamos fazendo , aqui e em outras muitas partes. Assim como na CG 35 foi chave o discurso de Bento XVI, neste tempo Francisco está nos confirmando que estamos na direção própria da missão da Companhia. Inclusive nos anima a ir além, como se dissesse: ‘vocês estão aquém do que podem fazer’. É o Santo Padre, com seu exemplo e com seu conhecimento da Companhia, quem continuamente nos confirma que estamos em boa direção”. Porque o novo Padre Geral crê que “a Companhia não tem muitas dúvidas sobre qual é sua missão, pois o que a CG 32 formulou, e o reformularam as seguintes congregações gerais, já se tornou sangue em nossa gente. Podemos dizer que sabemos o que devemos oferecer à Igreja. O grande desafio da Companhia de Jesus é, agora, como nos organizarmos para sermos eficazes nessa missão”. Sua impressão é de que “a Companhia está muito viva e que há muitos processos em andamento”, porque “nossa paixão está fundamentada na certeza de que acompanhamos as pessoas com a garantia de que Deus está conosco, precedendo-nos!!”.
Ao longo da entrevista Arturo Sosa coloca alguns dos temas chaves que quer abordar em seu governo, e que já mencionou em sua primeira homilia: a colaboração, a interculturalidade e a profundidade intelectual. “A ênfase na colaboração não é uma consequência de que não podemos sozinhos, é que não queremos. A Companhia de Jesus não tem sentido sem a colaboração com outros. Neste ponto estamos chamados a uma enorme conversão, pois em muitas partes ainda vivemos a nostalgia de quando fazíamos tudo, e que compartilhamos a missão porque não tivemos outra solução”, assinala. O outro tema, a multiculturalidade/interculturalidade ele considera “o próprio do Evangelho”, que é um “chamado à conversão de todas as culturas para afiançá-las como culturas e levá-las a Deus”. E assinala: “O verdadeiro rosto de Deus é multicolorido, multicultural e multivariado. Deus não é um Deus homogêneo; ao contrário. A criação nos está mostrando por toda parte a diversidade, como umas coisas se complementam com as outras. Se a Companhia de Jesus conseguir ser imagem disto, ela mesma estará sendo expressão desse rosto de Deus”.
Por último, para Arturo Sosa, a profundidade intelectual não é “uma questão de copiar modelos, mas de criar. Criar significa entender. A criação é um processo intelectual muito árduo. Entender o que está se passando no mundo de hoje, na Igreja de hoje, poder entender a fé… é o que pode nos dar chaves para focalizar a missão sobre a qual já encontramos um grande consenso, e encontrar os modos mais eficazes de fazê-lo”.
No encontro, além de narrar aspectos de sua infância e de sua família, de sua vocação – na qual tiveram muita influência os irmãos jesuítas – e sua formação na Companhia, explica momentos claves da Igreja que o marcaram. “O Concílio Vaticano II teve muita importância para mim, foi sem dúvida uma grande notícia”, e “a eleição de Arrupe foi outra baforada de ar novo”. Também a Conferência dos bispos latino-americanos em Medellín foi, a seu modo de ver, “um grandíssimo alento para a Igreja latino-americana e para a Igreja venezuelana”.
Da época em que foi Provincial, destaca três experiências muito fortes de construção conjunta em rede desses anos: a Conferência de Provinciais da América Latina (CPAL) que nasceu quando ele estava como Provincial na Venezuela; o nascimento da Associação de Universidades confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL); e o nascimento de Fé e Alegria e sua transformação em uma rede internacional.
Por último, sobre sua eleição confessa que, “no segundo dia comecei a escutar que perguntavam para mim, ou que tinham perguntado sobre mim, no terceiro dia comecei a me preocupar pois era muito mais direto, e mais ainda no quarto”. Ele entende sua eleição “como uma confirmação da direção que a Companhia iniciou a tomar no tempo de Arrupe. Entendo esta eleição como uma confirmação de que é preciso seguir por aqui. Mas eu, pessoalmente, sou como muitos jesuítas de minha geração”.
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