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Santa Maria Mãe de Deus. Ano Novo 2017

janeiro 1, 2017

Nasce o ano 2017 em um dia de benção. Quem se sente abençoado pode abençoar. A benção, como nova atitude vital desvelada em nossa intimidade sofredora e exaltada é o oposto da violência e da guerra. A benção só sabe de caminhos novos que constroem a concórdia, a justiça, a comunhão e a paz. Hoje nos diz o livro de Números 6: “O Senhor te abençoe e te proteja, ilumine seu rosto sobre ti e te conceda seu favor. E te conceda a paz”.
Os que seguem o Senhor e Mestre, Jesus, não entendem a violência como uma agressão provocadora de vingança e de ódio, mas como um motivo a mais, como o grande motivo, para carregar a cruz e seguir Cristo no silêncio, e com o rosto transpassado pela esperança. O exercício da não violência ativa, como nos sugere o Papa Francisco, que nasce do que Cristo viveu e transmitiu em seu caminho do Calvário e em sua agonia e morte na cruz, é um nítido caminho para ser vivido pela Igreja e, oxalá o seja, para uma humanidade banhada durante um ano na misericórdia, no início deste século cheio de crueldades, que somente acarretam ao ser humano morte, desolação e destruição.
Os cristãos recebemos no início do novo ano um alento de vida e de benção, que nos impulsiona a ser como essas mulheres corajosas, que se põem a caminho e arriscam tudo por seus filhos. Como fez Maria, a humilde Mãe de Deus. Estas mulheres incríveis, como Maria, sabem lutar no meio da noite, por pura graça, contra todos os dragões possíveis ou imagináveis, sobretudo, quando se descobrem portadoras de uma vida nova e cuidadoras dela. E muito especialmente se levam consigo o Emanuel, o ‘Deus conosco’, que celebramos hoje na culminância da Oitava do Natal.
A imagem que mais nos impressiona de Maria e de Jesus, agora que iniciamos o novo ano envolto em renovados e mútuos desejos de felicidade e de paz, é a da Piedade. É uma imagem dura e cruel embora escultores como Miguelangelo a representaram com sublime delicadeza e beleza. Não há nenhum sofrimento que se compare ao de uma mãe com seu filho em seu colo, morto ou assassinado em plena juventude. No caso de Maria, portadora de todas as promessas de Deus às quais entregou sua vida, e, nessa imagem, destruídas sem compaixão pela morte, é possível imaginar dor maior? A resposta é sim; é possível, pois Maria, além de ser a Mãe de Deus, como proclama a Igreja, tem sobre seus joelhos um Deus aparentemente despedaçado pelo poder sem misericórdia do homem. É possível sofrer mais? Até onde chega e chegará a barbárie do poder humano com seus atropelos e violências injustificadas?
Todos, como Maria, ou como as mulheres corajosas, temos decepções que nos amarguram e  pretendem derrotar a vida, mas, se nos mantivermos atentos e despertos no profundo do ser, nos ensinam os segredos da existência, o profundo oculto do Mistério da mesma, do Deus que habita em suas entranhas. Tenhamos a ousadia de nos colocar diante de Deus e de orar sem descanso. Coloquemo-nos de joelhos e falemos ao coração de Deus, como a nosso amigo. Somente Ele poderá compreender e enxugar nossas lágrimas, contingentes e sofridas.
Silêncio ativo. Lucas 2: “Todos os que ouviam se admiravam do que lhes haviam contado os pastores. Maria, por sua parte, conservava todas estas coisas meditando-as em seu coração.” Junto ao silêncio, o renascer de uma nova atitude ante a dor e o sofrimento. Algo novo está nascendo. O ano novo no-lo evoca.
Felizes os que se encontram apoiados em Deus em meio às violências sofridas e às suas próprias fragilidades e debilidades. Havia dois tetraplégicos que partilhavam o mesmo quarto em um hospital. Um deles desejava, ansiava e pedia a morte, entre impaciências e ingratas culpabilidades que o levavam a se defrontar com seu próprio e obscuro muro. O outro dava graças constantes e abertas ao infinito, a Deus e aos que cuidavam dele, por poder viver desde uma perspectiva diferente, desde uma debilidade aceita e compartilhada amorosa e fraternamente. Um acabou pedindo a morte assistida. O outro, agradecendo o desvelamento de uma nova vida mesmo carregando o peso de uma aparente prisão.  
Ninguém oferece o que não é, nem o que não tem. Somente se nos fizermos crianças, poderemos oferecer o dom que portamos por pura graça. Somente os que recobram a inocência da fé confiante se oferecem e se entregam ao serviço mútuo, amoroso e esperançado.
Nesta vida o que se adquire por esforço ou poderio humano acaba sendo secundário e passageiro. Na realidade não serve para nada. Será queimado como palha seca no verão. Só o essencial e autentico permanecerá. Viver assim é puro dom de Deus. Os que creem sabem que somente o grande presente, que é Cristo, bendito fruto do ventre de Maria, nos situa e coloca na Trindade santa, e permanece nela para sempre. Cada um de nós subsiste com Ele e nele.
Gálatas 4: “Como sois filhos, Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba”, Pai!’. Assim já não és escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro por vontade de Deus.” A vocação do cristão é descobrir no mal uma secreta e verdadeira vocação, que não é de queixa, mas ação pacificada e não violenta.
Será muito belo se um dia pudermos ver a luz de Deus, porém, mais belo ainda será ver esta luz no tempo presente refletida no rosto de mulheres e homens concretos, como consequência de haverem tornado possível um ambiente novo; um ambiente de paz e entendimento, de fraternidade e comunhão, de respeito e abaixamento humilde, sem ansiedades, sem ambições e sem prepotências destruidoras.
Mantenhamos aberto um caminho possível para a paz mediante o exercício discreto da não violência ativa, para que a luz e a benção de Deus transpassem o ano 2017.
Paz e bem a todos, irmãos.

Antonio García Rubio, pároco del Pilar em Madrid

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