O último dia do Jubileu da Vida Consagrada começou com a celebração eucarística em memória de São João XXIII, o “Papa bom”, iniciador do Concílio Vaticano II. Sua memória evocou o chamado a uma Vida Consagrada sinodal e extrovertida, capaz de ler com esperança os sinais dos tempos.
O dia foi marcado por testemunhos nascidos da esperança, vindos de lugares tão diversos quanto a Amazônia e o trabalho com minorias étnicas na Austrália. Na entrada da Sala Paulo VI, uma exposição de murais sobre o cuidado com a criação, a fraternidade e a paz convidava à contemplação e ao compromisso, assim como uma apresentação de dança, imagens e palavras: Symphony of Creation.
Dois momentos centrais iluminaram a reflexão do dia:
- “Peregrinos da esperança no caminho da paz”, orientados por Ir. Teresa Maya, das Irmãs da Caridade do Verbo Encarnado (VCVI).
- Workshop sobre técnicas de mediação e gerenciamento de conflitos, conduzido pelo Pe. David McCallum, SJ.
O Jubileu foi concluído com uma celebração na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, um sinal de comunhão e envio. Esse encerramento não marca um fim, mas o início de uma nova etapa de reconciliação e esperança para a Vida Consagrada.
As Filhas de Jesus, presentes no Jubileu, compartilham conosco os ecos das reflexões feitas neste último dia do Jubileu.



No caminho para a paz
“Eu perdi a minha paz, ele tirou a minha paz, descanse em paz, a paz esteja com você…”. Nossa liturgia está repleta de orações e desejos de paz, mas o desafio é torná-la vida concreta. Este Jubileu da Vida Consagrada nos convida a fazer da paz não apenas uma palavra repetida, mas um compromisso que transforma.
Ao encerrarmos este ano do Jubileu – um dos últimos do grande Jubileu da Esperança – vale a pena nos perguntarmos: Você pode dizer que a missão foi cumprida? Como levaremos esse compromisso para além de uma foto nas redes?
Comunidades caminhando pela paz
Somos parte da família humana que clama por paz em um mundo onde a violência está aumentando e se tornando normalizada. O Papa Francisco tem repetidamente chamado a atenção para a urgência da paz. A paz não é construída na solidão: o caminho para a paz é comunitário.
Shalom é mais do que a ausência de conflito: é a profunda harmonia para a qual Deus nos chama. A paz é o fruto do encontro, e somente no encontro recuperamos a humanidade.
A paz é construída com base na reconciliação. Hoje, a vida consagrada é chamada a ser uma especialista em reconciliação, semeando uma cultura de comunhão onde antes havia distância ou indiferença.
A arte do encontro
São Francisco de Assis é um mestre da paz. Aprendamos com ele a falar com a Criação. A encíclica Fratelli tutti nos inspira a romper com o isolamento e a mentalidade fechada. Não é a idade que nos limita, mas as ideologias e os medos que nos paralisam. Temos dificuldade em ousar encontros difíceis; preferimos aqueles que pensam como nós.
Substituímos a compaixão – que mobiliza – pela empatia que não transforma. Sair, conhecer pessoas, vivenciar encontros autênticos que tocam nossos corações: é aí que começa a verdadeira sinfonia da paz.
Não há paz sem memória: sem lembrar nomes e histórias, sem deixar que a dor do mundo desperte nossa ternura. É uma pena que, às vezes, só conheçamos a verdadeira história de nossas irmãs no obituário!



Uma espiritualidade que refaz a paz
A paz é um dom, não uma conquista. A vida consagrada, chamada a ser uma memória profética, é convidada a viver hoje uma espiritualidade que escuta e humaniza.
Essa espiritualidade passa necessariamente pelo caminho da reconciliação: com a história, com nossos irmãos e irmãs, com nós mesmos e com Deus. Somos chamados a ser especialistas em reconciliação, a criar uma verdadeira cultura de reconciliação, porque – embora falemos de paz – há reconciliações pendentes. Preferimos o silêncio ou a distância ao diálogo que cura. A paz é construída sobre a reconciliação, não sobre a prevenção de conflitos.
Reconstrução da paz
Somos convidados a tocar os relacionamentos que precisamos curar e a tomar consciência de nossa maneira de viver os conflitos, com suas luzes e sombras.
Precisamos aprender sobre mediação e gerenciamento de conflitos, para acolher o conflito como um espaço para o crescimento e a construção de confiança e compreensão. Para fazer isso, precisamos ouvir com todo o nosso coração, mente, vontade e espírito: sair de nossa própria ideia, acolher a do outro, abrir nossa alma na escuta contemplativa e perceber o Espírito nos outros.
Despacho em San Pablo Extramuros
Atravessamos a Porta Santa juntos e nos despedimos com gratidão e com o coração em chamas pelo que havíamos vivenciado. Cada encontro nos ensinou a ser uma presença de escuta, cuidado e esperança. Retornamos à nossa jornada comprometidos em semear a paz, acompanhar os mais pobres e defender a vida, guiados pelo Evangelho e pelo exemplo de Maria, para fazer florescer toda semente de esperança em nosso mundo”.