Hoje, ao celebrarmos a Trindade, lembramos que nosso Deus é o amor que é compartilhado, a comunhão que é dada. Essa festa não é um dogma abstrato, mas um convite para viver o amor em movimento, para nos deixarmos envolver pela dança da vida divina que nos convida a participar.
Naqueles dias, Jesus disse aos seus discípulos: “Ainda me resta dizer-lhes muitas coisas, mas vocês não as podem suportar agora; quando vier aquele, o Espírito da verdade, ele os guiará a toda a verdade. Porque ele não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e anunciará a vocês o que está por vir. Ele me glorificará, pois receberá o que é meu e o anunciará a vocês. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso eu lhes disse que ele receberá e tomará o que é meu e o anunciará a vocês”. Jo 16:12-15
Esse Evangelho de João é um trecho do “Sermão da Ceia”. Jesus anuncia aos seus discípulos que o Espírito será enviado a eles, o qual lhes esclarecerá todas as coisas que ainda não podem entender.
Na reflexão teológica sobre Deus, encontramos a limitação humana. O povo de Israel sabe disso muito bem, e é por isso que não se atreve a fazer imagens da divindade, porque não há imagem de coisas na terra que possam se assemelhar, mesmo que remotamente, à essência de Deus.
Um convite para você encontrar a Trindade.
O primeiro convite é deixar de lado as imagens que nos classificam e reduzem o mistério. Pedir ao Espírito que nos explique a partir de nosso interior e nos ensine a viver a partir da experiência de um Deus Trindade. Porque o que sabemos sobre Deus é graças a Jesus. E Nele, nós O conhecemos de três maneiras1 :
1- Como um VENTO irresistível que empurra a história do mundo a partir de seu interior, como quando as velas de um navio se expandem a partir de seu interior e ele começa a navegar. Nós o chamamos de “o Espírito”, o vento de Deus. E nós o “vimos” soprando poderosamente no próprio Jesus, e o vimos soprando poderosamente na primeira comunidade cristã. E continuamos a senti-lo soprando no amor e no entusiasmo de tantas pessoas boas que sustentam o mundo e nos mantêm na fé e na esperança.
2. Em Jesus, esse vento formidável era a PALAVRA. Para nós, tudo em Jesus é Palavra: quando ele cura e quando fala, quando tem compaixão e quando se cansa, quando morre e quando triunfa, vemos acima de tudo A PALAVRA. E não apenas pelo que ele diz, mas também pelo que ele faz, pelo seu modo de ser e de viver.
3- E aí vem a nossa estupenda surpresa: quando Deus fala de si mesmo – em sua Palavra, que é Jesus – ele não fala do Infinito, do Eterno, do Criador, de todas essas coisas maravilhosas que imaginamos. Ele fala de ABBÁ, do indispensável e próximo papai-mamãe, papai, mamãe, que é o mesmo que falar do médico que é contagioso porque cura seus doentes, que é o mesmo que falar do pastor que arrisca sua vida por cada ovelha.
A Trindade é a expressão da alegria de Deus.
O segundo convite é dar um passo adiante: depois de contemplar o que Jesus nos mostrou, somos agora convidados a entrar nesse mistério. A imagem que pode nos ajudar é contemplar a Trindade como uma dança divina de três pessoas. 2 Você pode ver a Trindade como uma dança divina de três pessoas que se amam e se abraçam tão plenamente que cada uma delas se torna “uma” com as outras.
Isso significa que Deus não é apenas diálogo (comunicação verbal, palavra compartilhada), mas comunhão e comunicação total: cada pessoa existe somente na medida em que caminha (avança) em direção à outra, ocupando seu lugar e habitando nela. Em outras palavras, a Trindade é um itinerário de uma pessoa para a outra, a presença de uma na outra, a comunhão do Pai com o Filho no Espírito. Cada pessoa existe em si mesma ao receber e compartilhar o ser das outras pessoas e com elas. Portanto, a Trindade é a forma suprema de comunicação, da presença de cada pessoa nas outras. A Trindade oferece um modelo de comunhão social para o mundo, ou seja, para homens e mulheres, idosos e crianças, todos na grande dança da vida.
Fazemos parte da “dança” de Deus. O desejo de Deus é que homens e mulheres participem da dança de amor íntimo da Trindade, dirigindo-se uns aos outros com amor, de modo que percebamos a interconexão fundamental entre nós. Certamente, Deus nos convidou a participar dessa dança divina, mas hesitamos: não sabemos se queremos ou não aceitar a mão de Deus para dançar com ele. Cabe a nós tomar a decisão, decidir quão intimamente queremos que Deus dance conosco e até que ponto queremos que Ele conduza nossa dança.
A que essa festa da Trindade me convida?
O que esse mistério da Trindade diz a mim hoje? Não como uma ideia abstrata, mas como um convite concreto para viver em comunhão, amor compartilhado e abertura para o outro. Porque esse Deus, a Trindade, não é contemplado de longe, mas nos convida a participar de sua eterna dança de amor.
Convido você a parar por um momento e se perguntar:
- A que imagens de Deus eu preciso renunciar para entrar livremente nesse mistério?
- Estou disposto a me deixar levar por sua música, a entrar naquela dança divina em que o Pai, o Filho e o Espírito se amam e se abraçam tão plenamente que se tornam um só?
- Que lugar eu quero ocupar nessa dança que sustenta e dá sentido à vida?
Que esta festa nos ajude a viver mais em um espírito de comunhão, de encontro, de presença mútua… para nos movermos ao ritmo do Amor que dá Vida.



