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A TIRANIA DO IMEDIATISMO NA INFORMAÇÃO

outubro 17, 2016

Junto à reflexão sobre “comunicação” – o que realmente devemos comunicar, a finalidade da comunicação – que Maria Inez, Superiora Geral das Filhas de Jesus, nos fez em agosto por ocasião da festividade de Santa Cândida, me fez pensar muito a reflexão destes dias do Pe. José Maria Rodríguez Olaizola S.I. sobre “como é fácil entrar na tirania do imediatismo na informação. Ainda mais se nos dedicamos à comunicação, em qualquer um dos serviços prestados neste campo. É preciso reagir rapidamente. Sim, é preciso preparar tudo para que, no mesmo instante em que se receba uma notícia possamos oferecer uma quantidade de dados, opiniões, avaliações. É necessário tentar gerar expectativas, criar tendências, aproveitar o momento… Então, é muito fácil abusar das palavras, tratar de contar o que ainda não existe, fazer diagnósticos e vereditos para questões que requerem o filtro do tempo…”
Nestes dias, pudemos palpar isso claramente com uma notícia que nos tocava de perto, e que estávamos esperando, em relação à nova nomeação do Padre Geral da Companhia de Jesus. Havia diversos tipos de conjeturas, algumas pessoas falaram da pessoa do Padre Arturo Sosa Abascal sj como jesuíta, a trajetória que percorreu na Companhia de Jesus. Tinha que ser um Geral da América Latina, não deveria ser do Oriente, enfim…
Apenas 24 horas depois já apareciam perfis dele por todo lado… Chamou-me muito a atenção escutar em Cochabamba quando tomei uma condução para ir ao centro da cidade, poucas horas depois de ser conhecida a notícia. Uma emissora de rádio ia contando aos passageiros (nesse momento eu estava sozinha): Quem era este jesuíta? Que estudos tinha? Por que se chamava “o Papa Negro, de onde era e o que se esperava dele? Ao perguntar ao motorista como se chamava a emissora, ele não soube me responder. E se estranhou do meu interesse  e de que lhe perguntasse, porque não tinha ideia de nada. Sua resposta foi uma pergunta: estão falando de alguma pessoa muito importante na Bolívia? Nunca tinha ouvido mencioná-la!…
E no dia seguinte à eleição do Superior Geral “podíamos ler reportagens sobre como será seu generalato com base em sua trajetória anterior, com pouco ou muito que poderiam conhecê-lo, com as expectativas e, talvez, também com os desejos de quem escrevia”. Porque este é um outro ponto para analisar…
É razoável reconhecer, não somente nesta notícia, mas em muitas outras que recebemos, que não sabemos como serão as coisas. Voltando à Companhia de Jesus sobre “este generalato, provavelmente nem sequer aqueles que participaram da votação para elegê-lo conhecem o futuro. José Maria anota que “eles sabem o que viram nele, o que foi mais valorizado em suas deliberações, inclusive a que expectativas parece que ele responderá melhor. Mas, a realidade é que, agora, a todos e a todas (sobretudo inacianas) toca-nos esperar. Por que empenhar-nos em marcar a ele e à sua equipe uma agenda baseada em nossos desejos? Por que duvidar da ação do Espírito Santo e dos caminhos por onde o Espírito poderá conduzir as pessoas? Não sabemos nada disso! Encanta-nos sentir que somos coprotagonistas dessas mesmas notícias, pessoas que sabemos acertar, que temos intuições e olhar crítico, e que gostamos de dizer: “eu já dizia…”, enfim…
Precisamos serenar a ansiedade que vivemos, quase inconscientemente, agitadas pelo que acontece tão rapidamente na sociedade atual, como expressa muito bem nosso bom amigo e querido Benjamín González Buelta sj.  Pacificar-nos. Aprender a esperar. Saber interiorizar mais, a não estabelecer o rumo das pessoas, por pouco ou muito que acreditamos conhecê-las… Nosso grande compromisso eclesial é pedir muito, como eles mesmos nos pediram, inclusive o próprio pelo Pe. Sosa sj, por ele, pelo Papa, e pelos vários líderes do mundo, em diferentes campos, e que devem tomar decisões importantes.
Agradeço muito ao Pe. Rodriguez Olaizola S.I. sua liberdade em expressar o que sente e pensa, sua ajuda a todos e todas para refletir, para acalmar-nos um pouco mais, para saber ter uma verdadeira postura de fé na ação do Espírito que certamente é imprevisível.

Teresa Ramírez fi

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