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ANNY PEÑA: “A chave de uma comunidade internacional está em que o fundamental não muda”

março 25, 2017

Sou Ana Cristina Peña Mendoza (Anny), dominicana, e completo 22 anos de votos perpétuos. Quero compartilhar com vocês minha experiência, para juntas darmos graças a Deus.
Descobri minha vocação quando comecei a sentir compaixão pelos mais pobres. Posso personificar na vendedora que, carregando na cabeça seu cesto cheio de frutas, passava por minha casa anunciando suas frutas. Estudei no Politécnico de Santiago de los Caballeros, e minha primeira professora foi Clementina Piccoli fi. No “Bachillerato” comecei a participar das jornadas vocacionais. Nelas via com clareza que tinha vocação, porém, logo voltava para casa e me esquecia. De vez em quando voltava a despertar em mim o desejo de ser “das freiras de minha escola” como ainda hoje me faz lembrar o P. Christopher Hartley, missionário espanhol que nesse tempo trabalhava em New York. Eu o conheci lá quando fui com minha família a essa cidade: estudei, trabalhei em diferentes fábricas e participei do grupo de jovens Os Amigos de Jesus, no qual rezávamos, celebrávamos e exercíamos o voluntariado.
Com 19 anos decidi regressar à República Dominicana e entrar na Congregação das irmãs de minha escola Era dia 8 de agosto de 1985. Na realidade, pouco sabia sobre a vida religiosa, mas tinha um coração desejoso de servir. Nesse tempo cantávamos com frequência o canto “minha casa, minha casa é o mundo” (algumas o recordarão). Sempre me lembro de escutar Rosa Santos fi, mestra de noviças, nos dizendo: “Vocês entraram na Congregação, não em uma província ou país”, e isso me ajudou a me sentir em casa em qualquer comunidade onde estivesse.
De 1994 a 2005 estive em Cuba com María Blanca del Barrio fi, Victoria San Segundo fi y Luisa Suárez fi. Ao voltar à República Dominicana, de 2005 a 2009, vivi em Los Minas, Guachupita e Cotuí. Depois de participar do Curso de Renovação no Brasil recebi o chamado de nossa geral, Maria Inez, enviando-me à Ásia. Em janeiro de 2010 cheguei a Filipinas para reforçar meu pouco conhecimento do inglês. Estive ali durante 05 meses, e depois de uma entrevista fui aceita para trabalhar na Tailândia na ONG Jesuit Refugees Service (JRS) como coordenadora do programa de alfabetização de adultos nos acampamentos de refugiados. Assim cheguei à Tailândia e fui recebida pelas irmãs filipinas da comunidade: Madeline Capistrano fi, Evelyn de Alba fi e mais tarde, Elvenia Escultor fi. Tivemos a felicidade de ir ao Japão antes da reunificação de províncias, e a Taiwan para a assembleia provincial, pois é a província à qual pertencemos.  
Depois de 05 anos, outro chamado de Maria Inez para dialogar sobre a proposta de JRS para trabalhar em Mianmar. Em setembro de 2015 cheguei a Myitkyina (Mianmar) como diretora de projeto. No mês seguinte chegou Rosemary Wan fi, uma irmã chinesa, e completamos a presença de Mianmar porque formamos comunidade com as irmãs de Tailândia.
Sendo da República Dominicana, onde durante muitos anos a maioria das irmãs era espanhola, poderia dizer que “cresci” na VR, mesmo dentro de meu país, em um ambiente de internacionalidade. Considero que a internacionalidade de nossas comunidades é uma verdadeira riqueza e ao mesmo tempo um desafio. Põe à prova nossas estruturas congregacionais e culturais, nossos conceitos, todo nosso ser. Sempre recordo a Inés Laso, superiora geral quando fiz minha última provação em Roma (1994), nos dizendo: “No futuro haverá muitas mudanças, mas, lembrem-se sempre, o fundamental nunca muda”, e essa é a chave em uma comunidade internacional, ter clareza daquilo que é o fundamental como Filhas de Jesus, e o mais é acréscimo cultural, social e pessoal. Durante esses anos vou aprendendo (o que não quer dizer vivendo totalmente) a descobrir e potencializar o que é essencial. Descobri que o mais fundamental e simples, em qualquer comunidade religiosa, é sentir-nos e reconhecer-nos irmãs (mas de verdade, não em teoria) e, a partir disso, em outros aspectos se respeita, se assume, se muda e se enriquece. E para isso necessitamos saber dialogar. A atitude seria a correção fraterna de coração a coração: uma irmã me corrige ou me sugere com palavras que saem de seu coração, e são recebidas com o coração de irmã.  
Outra coisa muito importante é ser consciente de que nossa missão é uma missão comum, não é minha parcela, é nosso campo. Por isso é importante interessar-nos, saber, saborear, participar daquilo que minha irmã faz porque o que ela faz também me interessa. Assim seremos capazes de nos ajudar, de vermos algum comentário de uma irmã sobre o que faço e como o faço, como uma colaboração e não como uma crítica. Meus assuntos não são meus, são nossos.  
No meu trabalho com JRS destacaria o valor da universalidade, da unidade na diversidade, o sentido de família entre os companheiros. O desejo de JRS é desenvolver educação de qualidade aos refugiados através da capacitação dos professores nos acampamentos, e acompanhá-los em sua realidade através da pastoral (Tailândia). Em Mianmar capacitamos jovens que querem se tornar professores, e que ao terminar o processo trabalharão em escolas paroquiais em lugares distantes. Rosemary Wan é a encarregada da formação destes jovens, e eu agora sou a coordenadora do programa de acompanhamento nos campos de refugiados.
Mianmar é um dos países mais pobres da Ásia. Com uma população de 53.26 milhões de pessoas e com mais de 100 grupos étnicos. Desde 1948 vivem muitos conflitos armados, algumas vezes muito intensos. Nossa presença se situa na região norte do país, próxima à fronteira com a China, em Kachin State, e vivemos em Myitkyina, que é a capital. Existem muitos campos de refugiados internos. Mianmar é uma sociedade multirreligiosa onde há budistas, cristãos, muçulmanos, religião popular, e católicos (que são minoria). A região está dividida em zonas controladas pelo exército e zonas controladas pelos grupos armados. O acesso a estas zonas é muito controlado e limita a presença de estrangeiros nelas.

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