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Ouvir com os ouvidos do coração

maio 24, 2022

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
PARA O 56º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS
DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Ouvir com os ouvidos do coração

Desde 1967, a Igreja celebra o Dia Mundial das Comunicações, instituído pelo Concílio Vaticano II.

Em sua mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco focaliza a atenção no verbo “escutar”, que é decisivo na gramática da comunicação e uma condição para um diálogo autêntico.

Ele começa por observar que “estamos perdendo a capacidade de ouvir os que estão à nossa frente”. Enquanto, curiosamente, “ouvir é experimentar um novo e importante desenvolvimento no campo comunicativo e informativo, através das várias ofertas de podcasts e bate-papo de áudio”. Isto confirma que “a escuta continua sendo essencial para a comunicação humana”.

Em três breves seções ele nos dá seus pensamentos e sua mensagem. É apenas para comunicadores? Não, é por isso que o compartilhamos com todos vocês.

 

Ouvir com os ouvidos do coração

Nas páginas bíblicas, aprendemos que a escuta está essencialmente ligada à relação dialógica entre Deus e a humanidade. Dos cinco sentidos, parece que o privilegiado por Deus é precisamente a audição, talvez por ser menos invasivo, mais discreto que a visão, e por isso deixa o ser humano mais livre.

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Deus ama os seres humanos: é por isso que Ele dirige a Palavra a eles, é por isso que Ele “inclina seu ouvido” para escutá-los. Ouvir, no final, é uma dimensão do amor.

Somente prestando atenção a quem ouvimos, o que ouvimos e como ouvimos, podemos crescer na arte de comunicar, cujo núcleo não é uma teoria ou uma técnica, mas a “capacidade do coração que torna possível a proximidade”. (Exhort. ap. Evangelii gaudium, 171).

 

A escuta como condição para uma boa comunicação

Há um uso do ouvido que não é a escuta verdadeira, mas o oposto: escutar e escutar, instrumentalizando outros para nosso interesse. Pelo contrário, o que torna a comunicação boa e totalmente humana é precisamente ouvir quem temos diante de nós, cara a cara, ouvir o outro a quem nos aproximamos com lealdade, confiança e abertura honesta.

A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação. Você não pode se comunicar se não ouviu primeiro, e não pode fazer um bom jornalismo sem a capacidade de ouvir.

Ouvir mais vozes, escutar uns aos outros, também na Igreja, entre irmãos e irmãs, nos permite exercer a arte do discernimento, que aparece sempre como a capacidade de orientar-se em meio a uma sinfonia de vozes.

A capacidade de ouvir a sociedade é extremamente preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. É necessário ter um ouvido aberto e escutar profundamente, especialmente o mal-estar social que tem sido exacerbado pelo declínio ou cessação de muitas atividades econômicas. A realidade da migração forçada também é um problema complexo, e ninguém tem uma receita pronta para resolvê-lo. Para superar os preconceitos e suavizar a dureza de nossos corações.

 

 

Ouvindo-se uns aos outros na Igreja

Também na Igreja há uma grande necessidade de ouvir e de se escutarem uns aos outros. É o presente mais precioso e generativo que podemos oferecer uns aos outros. Nós cristãos esquecemos que o serviço de escuta nos foi confiado por Aquele que é o ouvinte por excelência, em cujo trabalho somos chamados a participar. O teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer nos lembra assim que o primeiro serviço a ser prestado aos outros em comunhão consiste em escutá-los. Aquele que não sabe como ouvir seu irmão logo não poderá ouvir a Deus.[1].

A comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas é construída sobre a escuta mútua entre irmãos e irmãs.

Conscientes de participar de uma comunhão que nos precede e nos inclui, podemos redescobrir uma Igreja sinfônica, na qual cada um pode cantar com sua própria voz, acolhendo as vozes dos outros como um dom, a fim de manifestar a harmonia do todo que o Espírito Santo compõe.

Roma, São João de Latrão, 24 de janeiro de 2022, Memorial de São Francisco de Sales.

Francisco

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[1] D. Bonhoeffer, Vida en comunidad, Sígueme, Salamanca 2003, 90-91.

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