A experiência apostólica terminou.
Neste primeiro dia de minha volta a Cochabamba quis que minha oração recolhesse um pouco a vivência destes dias. Na primeira leitura da liturgia de hoje me encontro com 1Jo.1, 1 – 4: “O que vimos e ouvimos lhes anunciamos”, e isto me anima mais a compartilhar com vocês esta experiência que foi ao mesmo tempo rica, boa e dura, às vezes muito dura.
Antes da partida, quis me situar diante desta experiência apostólica que suspeitava ser difícil para mim por dois motivos. Por uma parte pensei serem poucos dias; em uma semana mal teria tempo para entrar e já teria que sair. Por outra parte notava que poderia sentir dificuldade nesse sentido apostólico, porque sou uma pessoa mais identificada com Betânia do que com o ser de apóstolo, com esse tu a tu entre a Marta ativa e reclamante, e a Maria contemplativa sempre aos pés de seu Senhor e encantada por tudo o que Ele diz ou faz.
Porém, quase sempre que penso nisto chego à mesma conclusão: cada pessoa é como é, e conto com os dons que tenho e reconheço na realidade concreta, incluindo o tempo e o lugar, aquilo que Deus haja disposto para mim, quer seja com ou sem um fim determinado. Estar sempre aberta ao Encontro, deixar-me levar por uma mão segura e por Alguém que sabe mais do que eu, confiar em que algo do pouco que eu faça ou diga possa ficar unido ao Nome de Jesus na lembrança de alguém… Para mim isto é suficiente para dar um pouco de força ao sentido de apóstolo que não tenho.
Estes oito dias foram um constante encontrar-me com senhoras idosas sozinhas, com uma diferença entre o urbano e o rural mais acentuada do que em outros lugares, com pessoas enfermas, com a falta de água, a morte por acidente de trabalho, casais com seus problemas e lutas para prosseguir, com o isolamento da aldeia perdida na montanha, com uma juventude que canta e dança como em todas as partes, mães muito jovens, sacerdotes que querem trabalhar desde a profundidade e identidade do povo nativo, com crianças que trabalham e têm rostos inesquecíveis… Certamente deixei de nomear algo.
Uma coisa me chamou a atenção, serviu-me de contraste entre o que eu via e o que eles me diziam inclusive com seus silêncios. Por onde eu passava via pobreza, escassez de tudo, carência do mais básico, falta de recursos elementares, etc. Porém de ninguém, absolutamente ninguém, ouvi um “não tenho”, um “que vida ruim”, nem um “por que para nós?”. Eu, sim, pensava nisso, mas, eles não o diziam. Não havia nenhuma reclamação pelas situações pessoais de pobreza material, mas, sim, muitas bênçãos ao céu e gratidão a Deus que não se esquece de nós. Olhando-os posso entender melhor o que é se sentir dependente da Graça de Deus.
Não desfrutei convivendo com esta realidade; ninguém pode se sentir bem com uma experiência de dor e sofrimento para muitos. Houve momentos em que necessitei um espaço para frear meu interior porque a realidade me superava e não assimilava tão depressa o que se apresentava diante de mim. Às vezes, quando nosso exterior não coincide com nosso interior, corremos o risco de cair no desequilíbrio, e para evitar isso é necessário parar e ver o que está acontecendo. E deixar que Deus atue.
Estou feliz. Feliz e agradecida, muito agradecida, porque agora são eles me fizeram ver e sentir o Nome de Jesus unido a cada uma de suas pessoas. E tudo o que está unido ao Nome de Jesus eu não posso esquecer.
Bem, para terminar vou lhes dizer duas coisas que desfrutei muitíssimo. Uma é o contato com a natureza e a outra é ter podido estar com outras Filhas de Jesus. As hortas que nos rodeavam eram uma maravilha e também as irmãs com as quais convivi. Nos dois casos uma explosão de sentidos, de afetos, de conversas, de sentimentos, de gestos, de oração, de silêncios… Este poder desfrutar todo o imaterial foi, em parte, graças à Tita que soube nos levar e nos mostrar o melhor e o pior que Buen Retiro e Capinota contêm. Um presente de Natal. Obrigada.
As fotos falam por si mesmas.
Por Pilar García-Junco fi