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Os jesuítas venezuelanos denunciam: “vivemos em um Estado sequestrado e violado por um Governo ditatorial”

abril 19, 2017

Os jesuítas venezuelanos disseram basta! Ante a escalada de violência na Venezuela, que recentemente fez mais seis vítimas, e a situação de fome e necessidade em que vive o país, a Companhia de Jesus, através de seus diversos organismos, denunciou que “vivemos em um Estado sequestrado e violado por um Governo ditatorial”, e também  de “repressão indiscriminada e sistemática contra a população civil”, por parte do Executivo de Maduro.
“Como cristãos corresponde-nos acompanhar esta longa Sexta feira santa vivida por nosso povo”, denunciam os jesuítas, que se uniram à “mensagem clara e corajosa” dos bispos do país.
A primeira reação foi de Luis Ugalde, sj, Diretor do Centro para Estudos Religiosos da Companhia de Jesús (CERPE), que qualifica a situação da Venezuela como “moralmente inaceitável”.
Para Ugalde, “ficou evidente  que vivemos em um Estado com Constituição democrática, porém sequestrado e violado por um Governo ditatorial”, referindo-se à decisão do TSJ (que posteriormente voltou atrás) de anular os poderes da Assembleia Nacional.
“ O país e o mundo agora ficaram mais esclarecidos: a democracia foi violada com um golpe mortal contra a soberania do povo cujos votos foram queimados na fogueira dos usurpadores”, sublinha Ugalde, que denuncia: “este grave delito tem delinquentes e devem ser punidos; não fazê-lo é cumplicidade com o golpe”.
“Não estamos ante uma disputa de poderes e uma interpretação diversificada de juristas, mas ante um golpe que despoja o povo de sua soberania”, acrescenta o jesuíta, que se posiciona juntamente com os bispos do país, e consideram “esta distorção moralmente inaceitável”. Ugalde vai além e afirma que “é um dever de consciência rechaçar o golpe, e a Constituição chama o povo da Venezuela a desconhecer qualquer decisão que a viole”.
Por sua parte, a revista SIC e o Centro Gumilla, organismo da Companhia de Jesus na Venezuela, publicaram um editorial, intitulado “É uma ditadura”, onde qualificam os últimos movimentos do Executivo de Nicolás Maduro como “claro golpe de Estado e um claro desmascaramento definitivo do governo como uma ditadura”. Para a revista “as situações de fome, repressão, falta de atendimento e insumos médicos básicos, que definimos como inexplicável crise humanitária no país, no fundo pode ser lida como uma política expressa de submissão da população, cujo objetivo foi, e é, evitar o levante popular frente a um golpe”. Denuncia ainda “as contínuas detenções de diversos políticos venezuelanos”, assim como “o desprezo com que se trata a comunidade internacional, começando com o Vaticano”.
Para a revista, “como cidadãos e como cristãos nos enfrentamos com uma ditadura. Temos presente os artigos 333 e 350 da Constituição que nos exigem fazer tudo o que depender de nós para a restituição das liberdades. Trata-se de agir como cidadãos através de protestos pacíficos, sem armas, sem violência e com resistência ao abuso de poder. Trata-se de usar a palavra e a razão, apesar de que, em tempos de turbulência, custa à razão encontrar seu caminho. Trata-se de não cair na chantagem da força, e fazer valer nossos direitos e o direito de uma solução democrática e eleitoral”.
” Como cristãos, acrescenta, corresponde-nos acompanhar esta já longa Sexta feira santa vivida por nosso povo. A fome continua presente, a falta de remédios, as operações violentas da OLP, os maus serviços públicos ou seu desaparecimento, a insegurança, que agravam outros males de longa data”, e critica o último passo dado pelo TSJ (que provocou os últimos incidentes), “uma nova estação nesta via sacra do povo venezuelano, mais um despojamento, um novo espinho, outro golpe neste caminho tortuoso que fazemos há vários anos”.
“Queremos caminhar para a verdadeira liberdade que supõe reconhecer-nos como membros de uma comunidade política que respeita os direitos de todos, que permite verdadeiros caminhos de desenvolvimento, que propicia uma autêntica solidariedade”, conclui o editorial, que reclama “respeito ao Estado de Direito, separação de poderes, legitimidade do parlamento como instância de controle e decisão democrática”.
Finalmente, as autoridades da Universidade Católica “Andrés Bello” ofereceram uma roda de imprensa para tomar posição sobre a atuação dos organismos de segurança do Estado, frente aos protestos registrados no país na última semana contra as sentenças do Supremo Tribunal que inabilitaram a Assembleia Nacional, e a favor da restituição da ordem constitucional.
O encontro foi encabeçado pelo reitor, Francisco José Virtuoso, pelo Cardeal Jorge Urosa Savino -arcebispo de Caracas e Chanceler da UCAB- e pelo Padre Rafael Garrido – Provincial da Companhia de Jesus na Venezuela e Vice-chanceler desta casa de estudos. Eles leram um comunicado no qual denunciaram a “repressão indiscriminada e sistemática contra a população civil” e o “uso irresponsável e ilegal da força” por parte do Executivo Nacional. No documento as autoridades asseguram que a Universidade Católica “não deve nem pode permanecer calada ante a violação de direitos humanos e a impunidade”.
Qualificaram como “aberrações” ações repressivas como o uso de armas de fogo, de bombas lacrimogêneas contra centros hospitalares e comerciais e  o lançamento destes artefatos por helicópteros do Estado.
 Os representantes da UCAB exigiram do governo nacional o cessar da criminalização das manifestações pacíficas e as prisões arbitrárias, advertiram que não “podem ser sacrificados os direitos humanos com o pretexto de restaurar a ordem pública” e pediram investigar “de maneira independente e exaustiva” os excessos cometidos no controle da ordem pública, porque “configuram graves infrações do direito internacional e podem constituir crimes de lesa humanidade”.
Igualmente recordaram que o protesto é um direito consagrado na Constituição Nacional,  e chamaram os que desejam exercê-lo a fazer isto “no marco do respeito às leis e aos cidadãos, evitando todo tipo de violência que tergiversam os mais nobres propósitos”.

Clicar aqui para ver o texto completo do comunicado

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